quarta-feira, 31 de agosto de 2011

EM CARTAZ

Chronique d'un été (Crônica de um verão)
Jean Rouch e Edgar Morin | 1960 | 90 min.

Durante o verão de 1960, o sociólogo Edgar Morin e Jean Rouch pesquisam sobre a vida cotidiana dos jovens parisienses para tentar compreender sua concepção de felicidade. Durante alguns meses este filme-ensaio segue, ao mesmo tempo, tal enquete, e também a evolução dos protagonistas principais. Ao redor da questão inicial «Como você vive ? Você é feliz ?», rapidamente aparecem problemáticas essenciais como a política, o desespero, o tédio, a solidão. Finalmente, o grupo interrogado durante a enquete se reúne em torno da primeira projeção do filme acabado, para discuti-lo, aceitá-lo ou rejeitá-lo. Com isso, os dois autores se encontram diante da experiência cruel, mas apaixonante, do « cinéma-vérité », cinema- verdade.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Poema à duração

Há muito tempo que pretendo escrever sobre a duração,
não um ensaio, uma peça de teatro ou uma história -
a duração exige a poesia.
Quero interrogar-me num poema,
lembrar-me num poema,
afirmar e conservar num poema
o que é a duração.

A duração é algo que já tantas vezes senti,
nos prenúncios da Primavera na Fontaine Sainte-Marie,
na brisa nocturna da Porte d'Auteuil,
ao sol estival da região do Karst,
a caminho de casa, às primeiras horas da madrugada, após uma comunhão com o meu ser.

Essa duração o que foi?
Foi um espaço de tempo?
Algo de mensurável? Uma certeza?
Não, a duração foi um sentimento,
o mais fugidio de todos os sentimentos,
que passa muitas vezes mais depressa que um instante,
imprevisível, impossível de dirigir,
impalpável, imensurável.
(...)

(HANDKE. Poema à duração. Trad. José A. Palma Caetano. Lisboa, Assírio & Alvim, 2002)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

EM CARTAZ





Moi, un noir (Eu, um negro)
(Jean Rouch, 1958, 70 min.)

O filme segue um grupo de amigos que vive de biscates em Abidjan, Costa do Marfim. Aceitando a proposta de Rouch, cada um imaginou ser um personagem, inventou uma história, encenou-a pela cidade e, depois, assistindo às cenas captadas (sem som), recriou as falas que havia improvisado. Rouch põe em cheque as noções de ficção e realidade.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Da crença


         Crer e não crer no mundo filmado, e talvez preferir o filme, mas ao mesmo tempo e no mesmo movimento, diante do mundo filmado, desejar acreditar que é justamente o mundo que garante o filme, e não o filme que garante o mundo
        (Comolli, Sob o risco do real, p. 171)
         

As ruas, o povo e Michael



Até onde vai o espetáculo? Onde começa o cinema?

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Na próxima aula:

"Filmar os homens reais no mundo real representa estar tomado pela desordem dos modos de vida, pelo indizível das vicissitudes do mundo, aquilo que do real se obstina a enganar as previsões. Impossibilidade do roteiro. Necessidade do documentário". 
(COMOLLI. Sob o risco do real, p. 176)


EM CARTAZ:

http://www.ateliersvaran.com/

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Para começar, um poema

O Outro
(Carlos Drummond de Andrade)

Como decifrar pictogramas de há dez mil anos
Se nem sei decifrar
Minha escrita interior?

Interrogo signos dúbios
E suas variações caleidoscópicas
A cada segundo de observação.

A verdade essencial
É o desconhecido que me habita
E a cada amanhecer me dá um soco.

Por ele sou também observado
Com ironia, desprezo, incompreensão.
E assim vivemos, se ao confronto se chama viver,

Unidos, impossibilitados de desligamento,
Acomodados, adversos,
Roídos de infernal curiosidade.



(In: Corpo, Rio de Janeiro, 1984)