O Outro
(Carlos Drummond de Andrade)
Como decifrar pictogramas de há dez mil anos
Se nem sei decifrar
Minha escrita interior?
Interrogo signos dúbios
E suas variações caleidoscópicas
A cada segundo de observação.
A verdade essencial
É o desconhecido que me habita
E a cada amanhecer me dá um soco.
Por ele sou também observado
Com ironia, desprezo, incompreensão.
E assim vivemos, se ao confronto se chama viver,
Unidos, impossibilitados de desligamento,
Acomodados, adversos,
Roídos de infernal curiosidade.
(In: Corpo, Rio de Janeiro, 1984)
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