quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Para começar, um poema

O Outro
(Carlos Drummond de Andrade)

Como decifrar pictogramas de há dez mil anos
Se nem sei decifrar
Minha escrita interior?

Interrogo signos dúbios
E suas variações caleidoscópicas
A cada segundo de observação.

A verdade essencial
É o desconhecido que me habita
E a cada amanhecer me dá um soco.

Por ele sou também observado
Com ironia, desprezo, incompreensão.
E assim vivemos, se ao confronto se chama viver,

Unidos, impossibilitados de desligamento,
Acomodados, adversos,
Roídos de infernal curiosidade.



(In: Corpo, Rio de Janeiro, 1984)

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