domingo, 16 de outubro de 2011

PALAVRA MUSICAL E ALTERIDADE

Na semana passada, assistimos ao Jardim Ângela, filme com o qual pudermos ter um contato, muitas vezes difícil e cheio de caminhos tortuosos com a “realidade” deste bairro na periferia de São Paulo que sente em seu dia a dia os efeitos da desigualdade social do nosso país e todos os desdobramentos desse processo. Lá está uma terminação do nervo, aonde a dor é sentida, desencadeada por estímulos múltiplos vindos do sistema complexo envolvendo indivíduos seres humanos, a organização em sociedade e o capitalismo ditando as regras do jogo. Ainda reflexivo sobre estas imagens, gostaria de compartilhar com os colegas duas leituras auditivas que me parecem encaixar bem neste momento dos estudos sobre imagem e alteridade:

- A primeira, muito cara à uma aproximação do que chamei “universo simbólico do crime e do rap” - repertório de signos e imagens que povoam leitura reflexiva de Washington sobre sua vida louca e arriscada no crime - é o álbum “O Rap é Compromisso” (2000) de Sabotage, rapper que representa um dos expoentes na linguagem do rap nacional e que consegue colocar a questão da pobreza e violência na favela onde viveu de maneira extremamente poética e muitas vezes lúdica em seus versos. Suas músicas são na verdade crônicas sobre o cotidiano da favela do Canão, no Brooklin, que fica na parte pobre da Zona Sul de São Paulo, próximo ao Jardim Ângela. Rimador habilidoso e cronista sagaz, Sabotage assim como Washington já trabalhou no tráfico, proximidade que facilmente transparece em sua intimidade ao tratar do crime. A conduta do respeito (modo de reconhecer as necessidades e sofrimentos do outro. "Respeito é pra quem tem") e os limites do comportamento e a proposição de igualdade são as noções que veiculam a relação com o outro. Ao contrário de Washington, Sabotage também foi baleado covardemente mas não sobreviveu, encerrando sua breve carreira que é tomada como marco e referência na produção de rap nacional, influenciando a maioria do que veio depois.

Mais info: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sabotage_(cantor)


[01] Introdução
[02] Rap é Compromisso
[03] Um Bom Lugar
[04] No Brooklin
[05] Cocaína
[06] Na Zona Sul
[07] A Cultura
[08] Incentivando o Som
[09] Respeito é Pra Quem Tem
[10] País da Fome
[11] Cantando pro Santo

LINK: http://www.easy-share.com/1908540481/Sabotage-Rap.e.Compromisso.rar


- A segunda, é o primeiro álbum da carreira solo de Arnaldo Antunes, Nome (1993). Neste disco com canções e exerimentações poético-sonoras, o músico/poeta vanguardista coloca relações com o outro, analisadas de forma lingüística, jogando com a forma como as palavras nos acessam os outros que povoam a nossa existência.

Arnaldo Antunes - Nome (1993)

01 - Fênis 02 - Diferente 03 - Nome 04 - Tato 05 - Cultura 06 - Se Não Se 07 - O Macaco 08 - Carnaval 09 - Campo 10 - Entre 11 - Luz 12 - Direitinho 13 - Não Tem Que 14 - Dentro 15 - Alta Noite 16 - Pouco 17 - Nome Não 18 - Soneto 19 - Imagem 20 - Armazém 21 - Acordo 22 - E Só 23 - Agora

LINK:https://rs765l32.rapidshare.com/#!download|765l34|344677690|_UQT1993_Arnaldo_Antunes_-_Nome.rar|61058|R~3AC036F79552D053C38EAB7C6DEDA668|0|0

Um comentário:

  1. Oi Daniel, obrigada por compartilhar essas "leituras auditivas"! Certamente contribuem para nossa discussão, eu não conhecia o disco do Sabotage, vou ouvir. O discurso rítmico do rap pode mesmo ser de uma complexidade singular - nem sempre os filmes conseguem, entretanto, dar conta dessa complexidade... eis a questão! E o Arnaldo, sou fã, ele sabe bem o que é o vôo, na ave (como gostava de dizer meu professor de semiótica). Continuamos a conversa na quinta, até lá!

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