quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Segundo ensaio - O prisioneiro da grade de ferro

O prisioneiro da grade de ferro também leva o nome de “auto-retratos”. E são realmente os presos quem desenham suas feições dentro da história. Poucos optam por mencionar os crimes que cometeram, por exemplo. Em frente às câmeras, preferem mostrar a arte que sabem fazer, com caneta bic, pipas, bolas ou na habilidade de produzir cachaça.

O que mais me chamou a atenção no documentário foram as cenas inicial e final. No começo, os homens aparecem apenas com uma placa ao pescoço, com número do prontuário e do pavilhão que residiam. Nenhum nome, nada que de fato os distinga uns dos outros, enquanto seres humanos. Ao fim, no entanto... após terem a oportunidade de se expressarem, manifestarem suas identidades, opiniões, medos, fraquezas, defesas, sonhos... de mostrarem facões e o tráfico de drogas; o rap e o futebol; o culto protestante e o culto ao diabo; a solidão e o sentimento de revolta... as imagens voltam ao fim, tendo sido cortadas as placas, e os homens ganham seus nomes de volta.

O filme se presta a conceder essas identidades de volta. Dar rosto e voz – plurais – ao amontoado de seres humanos que habitava o Carandiru. Com fatores em comum, sim: cometeram crimes e sofriam com o descaso do Estado. Mas com peculiaridades também, vistas por ninguém. Para as autoridades, o presídio não era nada mais que uma dor de cabeça. E que diferença os presos fariam? Se estavam amontoados em cubículos onde não havia espaço nem para que todos se deitassem ao mesmo tempo; se eram deteriorados pelos condições que lhes eram impostas.

Curiosas são algumas das cenas que os presos decidem gravar. Em alguns momentos, o destaque vai para as mazelas, para as falhas na saúde, na alimentação. Mas em outros, o detento, com uma câmera na mão, opta por filmar um gatinho preto que dorme. Ou as luzes da cidade. Ou as curvas das mulheres nos pôsteres. Ou as grades das janelas, que os retêm ali dentro.

A câmera nas mãos deles dá a oportunidade de mostrarem o que até ali era silêncio. A maioria dos detentos conhece artigos, penas, leis, argumentos. Alguns querem se reintegrar à sociedade. Alguns já cumpriram suas penas, como a lei manda, e continuam encarcerados. Eles têm sonhos, saudades, sentem solidão, e por quê não? Arrependimento. Eles têm nome. E graças a Paulo Sacramento, hoje o sabemos.



por Camila Braga

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